A descoberta das crenças limitantes

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Percebo que quando falo em crenças limitantes, as pessoas costumam reagir com certa resistência: ou não dando importância ao tema, ou achando que já entenderam como as tais convicções podem ser restritivas. No entanto, posso afirmar que este é um assunto muito complexo e, até mesmo, a raiz de muitas das questões que chegam aos consultórios psicanalíticos. Daí, a importância da descoberta das crenças limitantes em qualquer atendimento terapêutico.

Afinal, uma coisa é entendermos a questão racionalmente. Outra muito mais complexa é apreendermos em nossos corações que agimos de tal e tal maneira e conseguirmos nos “livrar” desses condicionamentos. Leia um pouco mais sobre o tema neste site.

Claro que o fato de termos consciência de que estas crenças atrapalham, e muito nossas vidas, já é um grande passo. No entanto, a maioria dessas convicções estão muito inconscientes e temos apenas a noção superficial de como somos condicionados por tais verdades internalizadas.

Para que este tema fique mais claro, vou citar alguns casos que podem ser úteis para uma maior compreensão de como as crenças limitantes tomam conta do nosso agir e do nosso pensar.

Na clínica é muito comum ouvirmos relatos de abandono e rejeições que aconteceram no passado e que, atualmente, se manifestam como raiva. Essa raiva, no entanto, também não é percebida pelo paciente. E, somente com a terapia isso pode ser visto e elaborado.

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Como na história de Jade*, em que a mãe abandonou a família quando ela era ainda adolescente. Atualmente, ela é uma mulher forte, independente e batalhadora. No entanto, na área dos relacionamentos, ela sempre se conecta com homens rudes que, aparentemente, são fortes. Mas, muito fracos no entendimento da vida. Consciente das questões energéticas, ela se culpa por atrair somente este tipo de homens.

Aparentemente, a crença limitante desta moça é a de que não merece um relacionamento estável, com troca e conexão. Mas, se aprofundarmos as questões, perceberemos que a sua crença limitante é de que tem que lutar, ser independente e se bastar. De que não precisa de ninguém. Afinal, ela conseguiu seguir com a vida mesmo após sua mãe a abandonando quando ela ainda era adolescente.

O abandono pela mãe trouxe para a paciente dores muito grandes que ela não conseguia perdoar, mesmo entendendo os reais motivos que sua mãe teve como mulher. Como não consegue perdoar, ela fica presa ao acontecimento e passa a repetir o mesmo padrão de relacionamentos ruins e tóxicos que a mãe teve com seu pai.

Nesse sentido, a cura passa pelo perdão. O perdão a si mesma e à mãe – que teve motivos reais para deixar a família. Aprender a olhar o próprio medo de ser abandonada novamente e ressignificar os relacionamentos. Além disso, perceber a própria raiva e, também, se perdoar por ter este sentimento – que é muito inconsciente e infantil.

Outro caso é de Tabata*- casada há 12 anos e mãe de uma menina, ela buscou terapia por sofrer de crises de ansiedade fortíssimas – veja neste link quais os principais sintomas da ansiedade. Após o nascimento da filha, abandou uma próspera carreira na área financeira de uma multinacional para se dedicar à maternidade. A ideia era se afastar do mercado de trabalho por pouco tempo. No entanto, a filha já estava completando 10 anos e ela não conseguia voltar para o trabalho. Sempre havia uma desculpa e ela sempre postergava a decisão. E, então, as crises de ansiedade foram aumentando até chegar em um ponto que estavam insuportáveis.

À princípio, podemos achar que essas crises estavam ligadas à dificuldade de voltar ao trabalho. Mas, com o decorrer das sessões, ficou muito claro que o motivo real das suas crises era o relacionamento com o marido – que estava extremamente desgastado – e sua dificuldade em aceitar o fato de que precisava urgentemente conversar com ele e estabelecer limites, caso contrário, a separação seria inevitável.

A crença limitante, neste caso, é a de que ela era dependente do marido, que não conseguiria se manter com seu próprio trabalho e que não tinha valor algum. Então, ela postergava tomar decisões. Além disso, também, havia uma enorme culpa por ter abandonado a carreira.

Neste caso, a cura se dá ao encarar que o relacionamento já não é o mesmo do início e enfrentar esta verdade. Somente assim, poderá tomar as rédeas da própria vida e superar as crises de ansiedade.

O terceiro caso é o de Marina* – jovem, bonita e homossexual. Cresceu em uma família muito simples, onde a religião era algo muito importante e os preceitos religiosos deviam ser levados muito a sério.

Ela chegou a frequentar os cultos com os pais quando era criança. Mas, na adolescência, se rebelou e deixou de frequentar os rituais. Aos poucos foi percebendo que tinha maior atração por mulheres. No entanto, não conseguia falar sobre isso com seus pais – que, pelo que ela contava nas sessões, já sabiam de sua orientação sexual.

Profissionalmente, sua vida era uma bagunça. Não conseguiu terminar nenhuma das faculdades que iniciou e, portanto, os trabalhos que conseguia eram pouco remunerados. Além disso, havia uma enorme autossabotagem: nunca chegava na hora – nem no trabalho, nem nas sessões.

Foram muitos meses de trabalho terapêutico para que ela conseguisse perceber o próprio valor, encontrasse um trabalho que não fosse apenas um “bico” e voltasse para a faculdade.

A princípio, podemos achar que sua crença limitante era que não merecia amor. Afinal, ela mesma não conseguia se dar valor. No entanto, com as sessões foi possível perceber que essa era apenas a ponta do iceberg. O que na verdade a estava limitando eram a culpa e a raiva por não corresponder ao que sua mãe esperava dela: que se casasse, tivesse filhos e constituísse uma família.

A cura, neste caso, passa pelo auto perdão e conscientização de que ela e a mãe são pessoas distintas e com vontades diferentes. Existe aí a necessidade de cortar o cordão umbilical – que, inconscientemente, ainda não havia sido rompido.
A descoberta das crenças limitantes emite luz às sombras e ajuda muito em qualquer trabalho terapêutico. Não é das tarefas mais fáceis, pois o Ego sempre coloca resistência às mudanças e pode iludir o terapeuta nesta tarefa. No entanto, quando a raiz dos inúmeros problemas é descoberta, o processo flui com muito mais leveza.

*Os nomes são fictícios e as histórias foram alteradas para preservar as identidades.

*Fotos: Google

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