Documentário populariza imagem de Jung

Quem se interessa por Carl Gustav Jung e por psicologia analítica não pode deixar de assistir ao documentário “Face to Face”, produzido pela BBC, em 1959. Com 40 minutos de duração, o documentário popularizou, e muito, a imagem de Jung.

Neste material, a emissora apresenta uma interessante entrevista feita pelo jornalista John Freeman. A ideia da entrevista era ser profunda, mas de uma maneira que pudesse ser entendida por pessoas que não tivessem conhecimentos específicos da área de psicologia.

A entrevista fez um sucesso tão grande que o diretor da Aldus Books, Wolfgang Foges, convidou Jung para escrever um livro que fosse acessível mesmo para leigos em psicologia analítica. Foges era um grande admirador do trabalho de Jung e lamentava que apenas Freud fosse conhecido por um grande número de leitores. Na época, Jung não era conhecido pelo público comum e sua leitura era considerada extremamente difícil.

A princípio, Jung declinou do convite e disse que nunca havia tido a intenção de popularizar sua obra e que, aos 84 anos, não tinha certeza se poderia fazê-lo de forma satisfatória. No entanto, com o imenso sucesso do documentário, Jung passou a receber uma infinidade de cartas de pessoas comuns, que não eram da área de psicologia, que ficaram encantadas com a presença marcante de Jung durante a entrevista. De alguma forma, essas pessoas perceberam em sua visão de vida algo que lhes podia ser útil.

Jung ficou muito surpreso e feliz pelo fato das cartas enviadas serem escritas por pessoas que ele não teria tido oportunidade de interagir durante sua vida. E, então, ele teve um sonho de muita importância.

Sonhou que ao invés de estar sentado em seu escritório conversando com médicos e psiquiatras, estava de pé em um local público dirigindo-se a uma multidão de pessoas que o ouviam extasiadas e que compreendiam perfeitamente tudo o que ele dizia.

Percebendo a importância e a mensagem do inconsciente por trás do sonho, Jung aceitou o convite. Ele solicitou que o livro não fosse uma obra individual, mas coletiva, realizada com a cooperação de um grupo de seus mais íntimos seguidores.

Nasceu assim o último livro escrito por Jung, “O Homem e Seus Símbolos” – PDF disponível na plataforma scribd. O seu último ano de vida foi praticamente dedicado a este livro. Quando faleceu, em junho de 1961, a sua parte estava pronta – terminou-a apenas 10 dias antes de adoecer definitivamente. 

Neste documentário, Jung lembra de quando teve consciência do self – que dá ao indivíduo a noção de totalidade. Ele diz: “Foi aos onze anos. De repente, a caminho da escola, eu saí de uma névoa. Foi exatamente como se eu sempre houvesse estado em uma névoa, andando em uma névoa, e eu saísse dela sabendo: “Eu sou o que sou”. E depois eu pensei: “Mas o que eu era antes?” E então eu soube que eu havia estado em uma névoa sem saber me diferenciar das outras coisas até então. Antes eu era apenas uma coisa entre outras coisas.”

O homem e seus símbolos

O primeiro capítulo do livro o “Homem e Seus Símbolos”, de autoria de Jung, destina-se a falar sobre o inconsciente, os sonhos e a sua importância na terapia analítica.

Jung inicia este capítulo destacando a importância de diferenciarmos os conceitos e entendimentos relacionados às ideias de signo e de símbolo. Em suas palavras, os signos apesar de não terem nenhum sentido intrínseco, alcançaram, pelo seu uso generalizado ou por intenção deliberada, significação reconhecida.

“Os signos não são símbolos. São sinais e servem, apenas, para indicar os objetos aos quais estão ligados. O que chamamos símbolo é um termo, um nome, ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós (…) Assim, uma palavra ou imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado manifesto e imediato”, afirma Jung.

Esta palavra ou imagem tem um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca é precisamente definido ou inteiramente explicado. Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente.

Esta é a razão por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem por meio de imagens. “Um símbolo não traz explicações; impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória”, explica Jung.

Figuras sintéticas, substitutivas de coisas conhecidas não são símbolos. São sinais. Por exemplo: asas estampadas nas roupas dos aviadores é um sinal. Os símbolos, segundo Jung, são a expressão de coisas significativas para as quais não existem formulação mais perfeita.

A cruz da religião cristã, por exemplo, é um símbolo dos mais significativos e expressa uma profusão de aspectos, ideias e emoções. No entanto, uma cruz ao lado de um nome, em uma lista, indica simplesmente que aquela pessoa está morta.

O falo é um símbolo universal da religião hindu, mas se um menino de rua desenha um pênis na parede, está simplesmente traduzindo o interesse que o sexo lhe desperta. Jung percebeu que os símbolos, frutos do inconsciente coletivo, estavam presentes nas temáticas trazidas pelos seus pacientes nas sessões terapêuticas.

Estas imagens eram frutos tanto de um psiquismo que trabalhava dentro dos padrões da normalidade, quanto daqueles que estavam em estados de delírios, por exemplo. Jung via, sobretudo nos símbolos, a forma mais autêntica de expressão do inconsciente, expressão enraizada no inconsciente coletivo de todos os povos.

A manifestação dos símbolos se dá por meio de imagens, sonhos, mitos e contos de fadas. Quando as imagens simbólicas são compreendidas e apreendidas pelo ego há a ampliação de consciência, contribuindo para o processo de individuação do sujeito.

No geral, é mais fácil reconhecer um símbolo do que defini-lo ou aplicá-lo. E, essa situação está bem de acordo com o entendimento que Jung tinha do símbolo como a melhor representação possível de alguma coisa que jamais poderá ser conhecida plenamente.

Entender esse conceito nos ajuda a compreender a atenção que Jung dava aos símbolos e sua dedicação a criar em seus pacientes a capacidade de refletir e viver a vida em um nível simbólico e não em um nível literal.

O uso consciente que fazemos dos símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem produz símbolos no inconsciente e em forma de sonhos. Apesar de não ser de fácil compreensão, é necessário compreender este ponto se quisermos compreender a mente humana.

Os sentidos do homem limitam a percepção que ele tem do mundo à sua volta. Utilizando instrumentos científicos, ele pode diminuir esta deficiência, consegue aumentar sua visão com um binóculo ou telescópio ou apurar a audição por meio de aparelhos eletrônicos.

No entanto, existe um ponto que seu conhecimento consciente não pode transpor. Há também certos acontecimentos de que não tomamos consciência, que permanecem abaixo do limiar de nossa consciência. São fatos que foram absorvidos subliminarmente, sem nosso conhecimento consciente.

E, apesar de termos ignorado originalmente a sua importância emocional e vital, mais tarde brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento. Este segundo pensamento pode aparecer na forma de sonho. Geralmente, o aspecto inconsciente de um acontecimento é revelado por meio de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica.

Você pode ler mais sobre a psicologia analítica aqui neste blog.

Veja o documentário abaixo:

Referências bibliográficas:

  • O Homem e seus símbolos – C.G.Jung
  • Entendendo Jung – Um guia ilustrado – Maggie Hyde & Michael McGuinness
  • Jung – Vida e Obra – Nise da Silveira

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