A vida tem seus altos e baixos e todos nós passamos por crises e mudanças na forma de pensar, agir e se colocar no mundo. No entanto, na segunda metade da vida, por volta dos 40 anos, todos passam pela crise da metanoia que, segundo Carl Jung, é uma fase em que o “eu” passa por uma importante crise existencial em busca de resolução para os conflitos internos e a autorrealização.
Esta crise pode iniciar-se por inúmeras razões como, por exemplo, uma doença grave em que a pessoa é obrigada a pensar na transitoriedade da vida; separação e divórcio, em que o indivíduo se vê sem o outro como referencial; desemprego, em que a pessoa é forçada a rever seus papéis no mundo; e, não menos traumático, nos casos de viuvez.
No entanto, a crise da metanoia acontece mesmo que nenhuma situação tão drástica como as mencionadas acima ocorra, pois a psique passa por transformações que forçam a pessoa a mudar. E, em todas essas situações, o indivíduo tem que deixar o velho ir embora para que uma nova vida renasça. Como diz James Hollis em seu livro “A Passagem do Meio”, “a noção adquirida do eu, com suas percepções e complexos agregados, sua defesa da criança interior, começa a ringir contra o Si-mesmo, que busca sua própria realização.”
A grande dificuldade dessa fase é aceitar que esse é um movimento natural da psique e que, de uma forma ou de outra, as coisas irão se acomodar. Então, é comum a negação do processo, o que gera grande ansiedade, depressão, abuso de álcool e drogas. Então, ao invés de investir energia para que o processo se desenrole da melhor maneira possível, a pessoa o reprime e, assim, acaba por sentir todas as sensações próprias do período de uma maneira muito mais acentuada.
Segundo Jung, a neurose precisa em última análise ser compreendida como o sofrimento de uma alma que não descobriu seu significado. “Essa declaração não sugere que possamos consumar nossas vidas sem sofrimento, e sim que o sofrimento já está sobre nós e somos, portanto, obrigados a descobrir seu significado”, comenta James Hollis.
Para superar a crise da metanoia, é necessário ressignificar a persona, desmascarando todos os personagens que usamos para nos relacionar com outro e com nosso meio, e confrontar nossa sombra – que representa tudo o que foi reprimido ou que passou despercebido.
“A sombra contém tudo o que é vital, porém problemático – a raiva e a sexualidade com certeza, mas também a alegria, a espontaneidade e a chama criativa não aproveitada”, explica Hollis. Segundo Freud, o preço da civilização é a neurose, as exigências da sociedade, começando com a nossa família de origem, que divide conteúdos psíquicos e a sombra se estende. Consequentemente, a confrontação com a sombra e sua integração favorecem a cura da divisão neurótica e uma programação de crescimento.
James Hollis explica que durante a passagem do meio a revolta da sombra faz parte de um esforço neutralizante realizado pelo Si-mesmo para devolver o equilíbrio à personalidade. A chave para a integração da sombra, a vida não vivida, é compreender que as exigências dela provêm do Si-mesmo, que não deseja mais repressão ou uma representação não autorizada. A integração da sombra exige que vivamos com responsabilidade na sociedade, mas também que sejamos mais sinceros com nós mesmos.
A ressignificação da persona e a integração da sombra promovem um melhor relacionamento entre o ego – que atua como gestor da consciência e mediador da contínua tensão opositiva entre persona e sombra – e o Si-mesmo e, consequentemente, com o outro.
A terapia analítica, como já mencionada neste blog, nos ajuda a reconhecer e integrar os conteúdos da sombra, bem como a ressignificação da persona. A conclusão bem-sucedida desse processo nos devolve ao mundo mais integrados e capazes de percorrer a estrada da individuação, meta coletiva proposta por Jung e que depende da função transcendente que advém da superação da crise da metanoia.
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