Jung observou que, às vezes, a pessoa levava muito tempo para responder determinadas palavras. E, muitas vezes, a pessoa não sabia explicar o porquê desta demora. Jung supôs que esta lentidão fosse provocada por alguma emoção inconsciente que inibia a reação.
Explorando mais a fundo, Jung percebeu também que outras palavras relacionadas também provocavam reações lentas. Então, chegou à conclusão de que deveriam existir grupos de sentimentos, pensamentos e lembranças no inconsciente que provocavam estas respostas tardias.
A eles Jung deu o nome de COMPLEXOS, ou seja, uma reunião de imagens conglomeradas em torno de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, carregados de afetividade, possuindo energia própria.
A origem dos complexos está nos conflitos, nos choques e nos traumas emocionais. Sua expressão se dá na consciência por meio de memórias, imagens, fantasias e pensamentos dolorosos, sempre vinculados a um arquétipo.
Portanto, os complexos têm um núcleo dual: imagem arquetípica e produtos de experiências pessoais, como traumas, interações familiares e condicionamentos culturais.
“Nós não temos complexos, os complexos é que nos têm, pois se comportam como “seres independentes” e gozam de elevado grau de autonomia, quer a pessoa esteja ou não consciente deles. Com algum esforço de vontade, pode-se, em geral, reprimir o complexo, mas é impossível negar sua existência e, na primeira ocasião favorável, ele volta à tona com toda a sua força original.” – “A natureza da Psique” – C.G. Jung – O.C. 8/2
Complexo Materno
O Complexo Materno é um grupo de ideias e sentimentos associados à experiência e à imagem da mãe, sendo constituído, primeiramente, pela vivência pessoal com a mãe e, em seguida, pelo contato com outras mulheres próximas ao convívio familiar.
A base do complexo materno é o arquétipo materno, ou seja, a imagem da Grande Mãe e tudo a ela relacionado. O trauma/afeto relacionado à figura materna cria uma imagem na memória, emocionalmente carregada e que se associa à imagem arquetípica da Grande Mãe. Juntas, as imagens congelam uma estrutura mais ou menos permanente e, ao redor deste núcleo, reúnem-se associações decorrentes de outras experiências semelhantes e formam uma verdadeira rede.
O complexo pode ser negativo ou positivo. No complexo materno positivo vemos a mãe como nutrição, cuidado, acolhimento, apoio e segurança. No complexo materno negativo vemos a mãe como controladora, ameaçadora, manipuladora.
No complexo materno positivo, a pessoa tem sensação de direito à vida e de valor próprio. Portanto, introjetou um mundo positivo e sente otimismo. No complexo materno negativo, acontece justamente o oposto: a pessoa se sente inadequada, tem sentimento de desamparo e inferioridade. A vida para esta pessoa tem um tom mais negativo.
É bom apontar que, mesmo sendo positivo, temos que nos conscientizar de nossos complexos e nos desvincularmos deles. Afinal, o caminho para a individuação pede o fortalecimento da própria identidade – o que não é possível se estivermos identificados com os complexos.
Complexo Paterno
A base do complexo paterno é o arquétipo paterno, a imagem de Deus e tudo a ele relacionado. O arquétipo atua como um amplificador, que aumenta os efeitos que emanam do pai – lembrando que o ser humano é controlado e influenciado pelo poder dos arquétipos.
Assim, o complexo paterno envolverá a relação de pai X filho e pai X filha tendo demarcações próprias na história de vida de cada um. Tais influências serão significativas no futuro dos indivíduos.
A questão de destaque é o fato de que o complexo paterno terá sua posição estabelecida na vida de toda pessoa, enquanto filho ou filha. Esta condição manter-se-á mesmo com o pai ausente ou desconhecido ou deficiente ou omisso ou, até mesmo, morto.
No complexo paterno positivo, a pessoa tem maior facilidade e coragem para enfrentar as dificuldades da vida. Os sentimentos de autovalorização e sensação de segurança são bastante aflorados. No pólo negativo, o complexo paterno traz insegurança, submissão e imaturidade, fazendo com que a pessoa se torne mais vulnerável a relacionamentos e situações abusivas.
Como no complexo materno, faz-se necessário a conscientização e desvinculação do complexo paterno para que seja possível o caminho para a individuação. Um dos objetivos da terapia analítica é tornar os complexos conscientes para que a pessoa possa se libertar de sua tirania.
Você já se percebeu tomado pela força de um complexo? Como foi essa experiência?
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